quinta-feira, 31 de maio de 2012


Património português, Geoconservação e geoturismo

A ocorrência de um ou mais elementos da geodiversidade (aflorantes quer em resultado da acção de processos naturais quer devido à intervenção humana) dá-se a designação de Geossítio. Este encontra-se bem delimitado geograficamente e apresenta valor singular do ponto de vista científico, pedagógico, cultural, turístico, ou outro. O local com uma excepcional concentração de geossitios designa-se por Área de interesse geológico e o conjunto de geossitios inventariados e caracterizados numa dada região é o Património Geológico.
Conceito de Geoconservação:
Geoconservação é uma área de especialidade das Geociências que se ocupa da identificação, avaliação, gestão e conservação dos locais cujos valores da geodiversidade estão acima da média, isto é, lugares cujas ocorrências geológicas possuem inegável valor científico, pedagógico, cultural, turístico ou outros - os geossítios (Brilha, 2005).
Finalidade da Geoconservação - A geoconservação  pretende reconhecer, preservar e valorizar os constituintes não vivos do meio natural com significado e valor geológico, ou seja, valores de excepção representativos da geodiversidade (“conjunto de ambientes geológicos, fenómenos e processos activos geradores de paisagens, rochas, minerais fósseis, solos e outros depósitos superficiais que constituem a base para a vida na Terra” - Stanley, 2000).

Apesar da existência de um número considerável de património geológico em Portugal, citaria alguns que reveste-se de grande importância, designadamente:
a)    
  Cabedelo do douro;

b)      Costa Nova;
  
c)      Murtinheira;

d)      Praia Norte

e)      Supertubos;   

f)        Megaslabs;  

g)      Lajes de Ericeira;

h)      Carcavelos;  

i)        Onda estática do Alentejo;  

j)        Arribas de Sagres.  

Medidas a adoptar - Dependendo da dimensão, do nível de impacte e do grau de vulnerabilidade dos elementos da geodiversidade, que se propõem conservar, poderão ser aplicadas técnicas de actuação complexas e avançadas ou uma simples norma de comportamento por parte do geoconservador ou do próprio turista, adoptando as seguintes medidas de prevenção:
  • Proteger e manter a integridade de locais com relevância para a geoconservação;
  • Contribuir para minimizar os impactes decorrentes de actividades que possam perigar os geossítios;
  • Preservar as taxas e magnitudes das modificações de processos geológicos;
  •  Interpretar a geodiversidade para os turistas e outros visitantes de áreas protegidas;
  •  Promover a exploração sustentável dos recursos geológicos;
  •  Proteger, manter e monitorizar os geossítios;
Em muitos casos, como por exemplo nas áreas protegidas a atitude conservadora não depende somente dos gestores, da aplicação dos instrumentos jurídicos e dos políticos mas também do comportamento individual ou colectivo dos visitantes.

Geoturismo

Por seu lado, o geoturismo é uma vertente de preservação bastante incentivada actualmente pelos grupos que trabalham com o património geológico. É considerado um turismo da natureza cujo enfoque é a geodiversidade, onde, ao mesmo tempo em que divulga propicia aos turistas o conhecimento e entendimento da geologia, Em síntese, utiliza como chamariz a beleza do monumento para que se possa criar questionamentos e dúvidas o visitante através de uma abordagem interpretativa, instigando a busca pelo conhecimento e revelando o seu significado científico às pessoas que estariam procurando apenas lazer (Nascimento e tal. 2008).
Pode ser definido também como “Um segmento da actividade turística que tem o património geológico como seu atractivo e busca sua protecção por meio da conservação dos seus recursos e da sensibilização do turista, utilizando para isso, a interpretação deste património tornando-o acessível ao público leigo, além de promover a sua divulgação e o desenvolvimento das ciências da terra” (Ruchkys 2007).
O trabalho de geoturismo é acompanhado da educação patrimonial, mas esta última possui como enfoque a comunidade local. A educação patrimonial trabalha com grupos como escolas ou associações de moradores, onde o objectivo principal é a busca pelo conhecimento através do objecto e/ou monumento.
O geoturismo tem como enfoque os turistas, pessoas que possivelmente não têm nenhuma relação com o local e que estão em busca do divertimento. Entretanto, em alguns segmentos, utiliza a educação patrimonial como um meio de conscientização e apreensão do património geológico e alfabetização cultural. O geoturismo aposta na divulgação da geodiversidade em combate ao desconhecimento da população sobre a importância dos conhecimentos geológicos. Em suma, a eficácia de geoturismo depende em grande de medida da boa conservação do património geológico. Sendo assim, todos devemos preservar a geodiversidade que não só propicia um ambiente agradável para as populações mais próximas e os visitantes (turistas), como também para a vertente educacional no que concerne as investigações geológicas, pois, o Mundo é bom lugar de viver onde o homem pode ser um excelente inquilino se preservar bem a casa para as gerações vindouras.     

BIBLIOGRAFIA

ASSUNÇÃO, F.T. (1968). Geologia da Província de Cabo Verde. Curso de Geologia do Ultramar, Lisboa, 2-52.
BRILHA, J. (2005). Património Geológico e Geoconservação: a Conservação da Natureza na sua Vertente Geológica, Palimage Editores, 190. Viseu.
HENRIQUES, P. C. (2002). a, b, c das Áreas   Protegidas de Portugal Continental.
www.unesco.org/science/earth/doc/geopark/list/pdf
http:/www.ecotuorism.org.



terça-feira, 15 de maio de 2012


Ameaças a geodiversidade na ilha de Santiago - Cabo Verde

O aumento populacional, a urbanização descontrolada, a ocupação irregular do solo, a exploração mineral, a desflorestação e a fragmentação de ecossistemas, o fogo, a sobre-exploração de georrecursos naturais, a utilização de tecnologias inadequadas na produção florestal, pesqueira, agropecuária e industrial, a indefinição de políticas públicas e as obras de infra-estrutura implantadas sem os devidos cuidados estão entre as principais formas de ameaça da geodiversidade.
Constituem-se também como ameaças à geodiversidade a falta de recursos para a pesquisa, a iliteracia dos dirigentes políticos, dos gestores e do público em geral em matéria de geoconservação, algumas acções de conservação, as faltas de fiscalização, de monitorização e de estímulo à educação ambiental, bem como a não implementação de práticas sustentáveis (Gray, 2004). Acrescenta-se, a tudo isso, a comercialização ilegal de amostras de fósseis, minerais e rochas.
Todas estas ameaças provocam alterações ou destruições da geodiversidade, susceptíveis de acarretarem, quer de forma directa, quer indirecta, impacte a nível socioeconómico uma vez que, desde o seu aparecimento na Terra, o Homem vem dependendo cada vez mais dos recursos naturais, mormente dos recursos geológicos (veja-se o caso do petróleo e outros georrecursos).
Contudo, a robustez aparente da maioria das rochas, faz com que haja uma ideia generalizada, de que a geodiversidade é susceptível de resistir a processos naturais de erosão e a consequente degradação. Por outro lado, é ideia assente que os objectos geológicos não carecem de medidas de protecção (Brilha, 2005). Apesar de a Natureza nos dar razão em alguns casos, na maioria das vezes, a geodiversidade evidencia grande vulnerabilidade em relação a certas ameaças/perturbações. Para além das ameaças anteriormente referidas podemos acrescentar outras como a ocupação de zonas litorais, a urbanização, os agentes meteóricos e erosivos, a implantação de barragens, aerogeradores e de infra-estruturas rodoviárias, criação de instalações para o uso público (e.g. actividades recreativas), a recolha de amostras, escavação descontrolada em locais com registos fósseis importantes, vandalismo, etc. (Sharples, 2002; Brilha, 2005).
Deste modo, podemos considerar que, de uma forma geral, todos os elementos da geodiversidade apresentam uma maior ou menor sensibilidade às perturbações a que estão sujeitos. Uns são mais sensíveis a determinadas ameaças para as quais outros são mais resistentes ou, até, indiferentes.
Com base nos trabalhos de Gordon e MacFadyen (2001), Sharples (2002), Gray (2004) e Brilha (2005), descriminam-se, seguidamente, os factores que contribuem para a ameaça à geodiversidade. De entre estes factores, alguns estão relacionados, sobretudo, com a actividade de uso da geodiversidade.

A exploração dos recursos geológicos é das actividades humanas mais antigas, se atendermos que os primeiros instrumentos de caça eram feitos de pedra. Os mais variados materiais geológicos utilizados pelo Homem, quer na indústria de construção civil (figura 3.4) quer na joalharia, produção de energia e outros, têm impactes directos ou indirectos na geodiversidade, uma vez que a sua utilização implica a exploração dos recursos geológicos. Esta exploração produz efeitos nefastos, quer a nível dos afloramentos, quer a nível das paisagens. Neste último caso, para além do impacte visual, a diversidade de espécies vegetais que ocupam a vizinhança dos locais explorados sofrerá alterações metabólicas, quer a nível da respiração, quer a nível da fotossíntese.

A nível do afloramento, “a actividade extractiva pode consumir objectos geológicos, como fósseis ou minerais, de valor científico, pedagógico ou outros” (Brilha, 2005). Por outro lado, certas formações com elevado valor petrológico e estratigráfico podem ficar danificados ou completamente destruídos pela exploração. Por exemplo, no Monte Vermelho em Palmarejo, na ilha de Santiago, os materiais piroclásticos vêm sendo explorados, de forma descontrolada, apesar de Pereira (2005) ter reagido a esta situação, apontando as consequências nefastas que, a curto prazo, podem resultar desta exploração. De igual modo, a extracção de areias no leito das ribeiras e em certas praias como em Santa Cruz, S. Miguel e Achada Baleia, tem causado, para além da destruição daquelas praias, a aceleração dos processos erosivos e a intrusão salina, com impactes graves para a fauna e flora locais. A extracção de areia litoral provoca ainda o avanço do mar que afecta as áreas agrícolas.

Quanto ao impacte paisagístico, é notório o aspecto inestético que certas paisagens adquirem na sequência de actividades extractivas, sobretudo, quando após à exploração a céu aberto não são implementadas medidas geotécnicas e de recuperação ambiental que permitam a mitigação dos impactes.
Estamos cientes da inevitabilidade do consumo e da exploração dos recursos geológicos, dos quais todos nós dependemos. A título de exemplo, um estudo do Mineral Information Institute dos Estados Unidos refere que, em média, cada cidadão americano que nasce necessitará, ao longo da sua vida, de cerca de 1680 toneladas de minerais, metais e combustíveis. Multiplicar este valor por todos os cidadãos que têm padrões de consumo semelhantes aos dos americanos, é o bastante para imaginar o volume extraordinário de recursos geológicos de que dependemos (Brilha, 2005).


À superfície da Terra decorre um conjunto de processos que se traduzem, essencialmente, pela meteorização e erosão das rochas. Tais processos poderão ser catalisados pelo dióxido de carbono proveniente, quer da actividade dos seres vivos ou da sua decomposição, depois de mortos, quer do dióxido de carbono atmosférico existente nas águas das chuvas. Nesta óptica, o crescimento da vegetação contribui para o incremento de actividades orgânicas o que poderá traduzir-se num aumento da carbonatação dos minerais silicatados, que constituem a maioria das rochas que afloram à superfície dos continentes. A carbonatação é um processo muito significativo no vasto processo de alteração química das rochas, podendo ser uma grande ameaça à geodiversidade.
A densidade da cobertura vegetal em regiões climáticas favoráveis, poderá também ocultar certas ocorrências geológicas (afloramentos, estratos dobrados, sistemas de falhas, jazigos minerais etc.) com valor científico, pedagógico ou outro, diminuindo os valores da geodiversidade local (Brilha, 2005). Para além deste facto, a densa rede de raízes poderá facilitar a infiltração da água favorecendo a formação de diáclases, levando à degradação dos elementos da geodiversidade.
A desflorestação, por sua vez, contribui para, entre outras coisas, aumentar o poder erosivo resultante da acção dos agentes da geodinâmica externa. Não havendo raízes que facilitam a infiltração das águas pluviais, por exemplo, aumenta o seu poder erosivo sobre os solos e rochas. Finalmente as actividades agrícolas, intensivas onde se usa maquinaria pesada, como o tractor, que aceleram o processo erosivo, levando à degradação do solo (Brilha, 2005). Também o uso de fertilizantes na agricultura poderá contaminar as águas superficiais e subterrâneas deteriorando a sua qualidade química.
Esta prática poderá contribuir para a acidificação de solos, contaminação dos cursos de água por metais pesados e a para a deterioração da componente orgânica, tornando esses solos impróprios para a agricultura e para o desenvolvimento de certas actividades biológicas.
Tais fertilizantes para além dos impactes negativos para a geodiversidade também comprometem a biodiversidade local e a qualidade das águas que abastecem a população, com reflexo directo na qualidade de vida dos habitantes.                 
As práticas agrícolas tradicionais, em Cabo Verde, têm contribuído ao longo dos anos, para a destruição e perda de solos. Em muitos locais, sobretudo nas encostas, o sistema de “monda” tem contribuído para o arrastamento do solo para os vales das ribeiras com prejuízo enorme a nível pedológico. A ausência de vegetação e as práticas extractivas geram impactes irreversíveis, alterando os regimes hidrológicos superficiais e subterrâneos, modificando as condições de infiltração e a própria qualidade do solo.

Em face da zonalidade climática é possível definir, à escala global, grandes zonas de influência dos vários processos de alteração das rochas. Assim, como consequência das variações climáticas, há regiões (árcticas, desérticas quentes e montanhas) onde predomina a meteorização mecânica e outras onde a meteorização química e bioquímica são dominantes. A meteorização química e bioquímica predomina em regiões com grande disponibilidade de água líquida (zonas compreendidas entre o círculo polar árctico e o círculo polar antárctico) e temperaturas que facilitam uma maior abundância de cobertura vegetal. Por outro lado, as variações climáticas podem influenciar os fenómenos de crioclastia e termoclastia, levando ao aparecimento de uma rede de diáclases que propiciem a alteração das rochas. Segundo Brilha (2005), o factor climático poderá, ainda, induzir mudanças nos sistemas de drenagem, provocando mudanças no regime de sedimentação, inundações, induzir o aumento da erosão costeira, condicionar os processos de fossilização, etc. Poderá, ainda, reactivar ou desactivar os processos de meteorização/erosão (Gordon e MacFadyen, 2001) e constituir-se, deste modo, como uma ameaça à geodiversidade.
A construção de obras de grande envergadura como pontes, vias rodoviárias e férreas, barragens, portos, aeroportos etc., produzem impactes negativos sobre o meio abiótico, sendo, por isso, um dos principais factores de destruição da integridade geológica e geomorfológica e, consequentemente, uma ameaça à geodiversidade (Gray, 2004). A implantação de infra-estruturas em sítios inadequados e sem devido plano de monitorização, para além de provocar a impermeabilização de solos e zonas urbanizadas reduzindo as zonas de retenção e consequentemente de infiltração da água das chuvas, também poderá ocultar afloramentos que, de outra forma, poderiam constituir importantes recursos didácticos para os alunos e professores de vários níveis de ensino (Brilha, 2005).
De modo semelhante, a construção de portos e outras obras em regiões costeiras resulta, normalmente, em processos de degradação que podem pôr em perigo certas formações geológicas. A título de exemplo, podemos citar a construção do porto da Praia (figura 4) junto ao qual se encontra um depósito calcarenítico de idade Quaternária, que de resto já foi indicado por Pereira (2005), como um geossítio. Devido às intensas actividades antrópicas existentes no porto, esta formação calcária poderá estar condenada ao desaparecimento. Por outro lado, a trasfega de combustíveis e o seu armazenamento nos armazéns da ENACOL (Empresa Nacional de Combustíveis S. A.) poderão constituir-se numa grande ameaça a este estrato calcarenítico, uma vez que os combustíveis poderão derramar e reagir quimicamente com os componentes desta formação, catalisando o seu processo de degradação.
A propósito desta problemática podemos referir a própria exploração dos materiais utilizados na construção dessas obras, que muitas vezes, não obedecem aos princípios de sustentabilidade. Na construção do Palácio da Justiça e do Liceu Domingos Ramos, ambos na Cidade da Praia, foi extraída, praticamente, toda a areia fina e grosseira da Praia Negra, que hoje está resumida a uma praia de calhaus.

As actividades militares implicam a utilização de maquinaria pesada que associada a bombardeamentos durante os treinos, escavação de túneis e trincheiras poderão produzir diversos impactes negativos para o ambiente, afectando as características sensíveis da geodiversidade. O plano de operações de rotina, em áreas sensíveis (Brilha, 2005), pode causar prejuízos tanto no domínio da geodiversidade como no da biodiversidade. Esses prejuízos podem ir desde da simples erosão de solos à poluição de aquíferos, por munições abandonadas, com graves prejuízos para a qualidade das águas subterrâneas e superficiais.
A maior parte dos políticos e gestores são preparados para trabalharem a nível administrativo, da mesma forma que, a maioria dos geocientistas (geólogos, geofísicos, geomorfólogos, pedólogos etc.) é preparada para contribuir em actividades como indústrias extractivas, exploração mineral, agricultura, silvicultura, gestão de áreas protegidas e organizações semelhantes.
Torna-se, então, necessário conceber medidas e implementar acções que visam promover o equilíbrio entre o uso industrial de recursos naturais e o esforço para proteger e preservar a geodiversidade. Este equilíbrio seria parte integrante do anunciado e desejável desenvolvimento sustentável e constituiria a forma ideal de conservar a Natureza e os seus recursos, envolvendo ambas as vertentes: diversidade geológica e biológica.
Tais medidas e acções passam, por exemplo, pela realização de cursos de pós-graduação, de formação contínua, ou de qualquer outro carácter que permitam a aquisição e actualização de conhecimentos, na área da geoconservação, mesmo por parte daqueles que lidam profissionalmente com a Geologia (Brilha, 2005). Como consequência da iliteracia do público surgem, muitas vezes, actos de vandalismo que também constituem um dos principais problemas associados à geodiversidade e aos espaços naturais protegidos. Por vezes, aparecem painéis informativos danificados (rasgados, pintados com graffiti…), vedações danificadas, graffiti sobre elementos geológicos de excepcional valor o que contribui para aumentar a vulnerabilidade dos elementos naturais protegidos. Por isso, para além dos programas de informação/sensibilização que visem condutas compatíveis com a conservação, a administração dos espaços naturais protegidos deverá desenvolver um programa de monitorização e vigilância que permitam assegurar uma adequada conservação da geodiversidade e outros valores naturais afectos a estes locais.
Conclui-se que o conceito de geodiversidade, apesar de estar a ser amplamente divulgado nas últimas três décadas, carece ainda de algum consenso entre os especialistas e alguma interiorização por parte do público. Não obstante, o seu conhecimento é importante não só para a implementação de acções de geoconservação como também para o conhecimento da história da Terra e dos seres vivos que nela habitam.
Por outro lado, quando do estabelecimento de planos de ordenamento do território temos de conhecer bem a geodiversidade local dadas as especificidades geológicas de cada região. Considerando que a diversidade de estruturas (petrológicas, hidrogeológicas, tectónicas e geomorfológicas) e os materiais geológicos (solos, rochas e minerais) que integram a diversidade geológica representam o substrato, sobre o qual se desenvolve toda a actividade orgânica, é imprescindível promover difusão da geodiversidade, os seus valores e os factores que a ameaçam e, ainda, propor medidas que contribuem não só para a sua gestão sustentável como também para minimizar os impactes decorrentes da sua degradação.   
A preservação da geodiversidade deve constituir-se numa prioridade para os cientistas, educadores, técnicos e políticos responsáveis pela gestão de políticas ambientais e de Conservação da Natureza. Para isso, é necessário que todos estes actores e a sociedade em geral se envolvam na promoção, divulgação e valorização da geodiversidade.



Referências bibliográficas

BRILHA J. (2006b): Proposta metodológica para uma estratégia de geoconservação. In J. Mirão & A. Balbino (Coord.) Resumos alargados do VII Congresso Nacional de Geologia, Universidade de Évora, 925-927.
CABO VERDE NATURA 2000 (2001). Planificación y Ordenación Sostenible del Território y los Recursos Naturales del Litoral de Cabo Verde y de las islas de Sal, Boa Vista e Maio.
CABO VERDE (2003). Decreto-Regulamentar Nº.3/2003 de 24 de Fevereiro – Estabelece o Regime Jurídico dos Espaços Protegidos. Boletim Oficial – I série nº 5 de 24 de Fevereiro de 2003.
MINISTÉRIO DO AMBIENTE AGRICULTURA E PESCAS (2004). Livro Branco sobre o Estado do Ambiente em Cabo Verde”. Direcção Geral do Ambiente. Praia, 229p.
CABO VERDE (2006). Decreto-Lei nº 29/2006 de 6 de Março que estabelece o Regime Jurídico da Avaliação do Impacte Ambiental – B. O. nº 10, I Série de 6 de Março.
DGA. (2004a). Livro Branco sobre o Estado do Ambiente  em Cabo Verde . Ministério do Ambiente, Agricultura e Pescas, Direcção Geral do Ambiente, Praia, 229p.
DGA. (2008). Projecto Áreas Protegidas. Ministério da Agricultura, Alimentação e Ambiente, Praia.
DIAS, B., F. S. (2002) A Implementação da Convenção Sobre Diversidade Biológica no Brasil: desafios e oportunidades. Disponível em http://www.bdt.fat.org.br/.
MACEDO, J.R., SERRALHEIRO, A., SILVA, L.C. (1988). Notícia Explicativa da Carta Geológica da ilha de S. Nicolau (Cabo Verde) na escala de 1:50.000. In Garcia de Orta, Sér. Geol., Lisboa, 11 (1-2), 1-32.
MACHADO, F. (1967). Geologia das ilhas de Cabo Verde. Agrupamento Científico de Geologia da Universidade de Lisboa da Junta de Investigação do Ultramar, Lisboa.
MADEIRA J., BRUM DA SILVEIRA A., MATA J, MOURÃO C., MARTINS, S. (2009).The role of mass movements on the geomorphologic evolution of island volcanoes: examples from Fogo and Brava in the Cape Verde archipelago. Comunicações Geológicas (95), 99-112.
PANA II. (2004). Segundo Plano de Acção Nacional para o Ambiente. GEP-MAAP.
SERRALHEIRO, A. (1976). A Geologia da Ilha de Santiago. Tese de Doutoramento. Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa, 218 p.

Endereços de Internet
http://iucn.org/themes/wcpa.
www.unesco.org/science/earth/doc/geopark/list/pdf
http://www.europeangeoparks.org/isite/page/52
http://www.unesco.org/mab/   
http:// www.unesco. org/en/list/stat.
http://www.sit.cv

segunda-feira, 7 de maio de 2012


Geoconservação, um imperativo para a humanidade - o caso de Cabo Vede

A Natureza é integrada por dois componentes essenciais:
 1) Biodiversidadecomo quantidade dos seres vivos existentes, suas espécies, características, sua variação e diferenciação em todos aspectos da sua vida;
2) Geodiversidade - como variedade de ambientes geológicos, fenómenos e processos activos capazes de gerar paisagens, rochas, minerais, fósseis, solos e outros depósitos superficiais que constituem a base para a vida na Terra.
A ocorrência de um ou mais elementos da geodiversidade (aflorantes quer em resultado da acção de processos naturais quer devido à intervenção humana) dá-se a designação de Geossítio. Este encontra-se bem delimitado geograficamente e apresenta valor singular do ponto de vista científico, pedagógico, cultural, turístico, ou outro. O local com uma excepcional concentração de geossitios designa-se por Área de interesse geológico e o conjunto de geossitios inventariados e caracterizados numa dada região é o Património Geológico.
Como forma de preservar os efeitos nefastos contra a natureza e mais concretamente sobre a geodiversidade, surge o termo geoconservação, uma nova área de especialidade das Geociências que se ocupa da identificação, avaliação, gestão e conservação dos locais cujos valores da geodiversidade estão acima da média, isto é, lugares cujas ocorrências geológicas possuem inegável valor científico, pedagógico, cultural, turístico ou outros - os geossítios (Brilha, 2005).
A geoconservação tem por finalidade reconhecer, preservar e valorizar os constituintes não vivos do meio natural com significado e valor geológico, ou seja, valores de excepção representativos da geodiversidade (“conjunto de ambientes geológicos, fenómenos e processos activos geradores de paisagens, rochas, minerais fósseis, solos e outros depósitos superficiais que constituem a base para a vida na Terra” - Stanley, 2000).
Dependendo da dimensão, do nível de impacte e do grau de vulnerabilidade dos elementos da geodiversidade, que se propõem conservar, poderão ser aplicadas técnicas de actuação complexas e avançadas ou uma simples norma de comportamento por parte do geoconservador ou do próprio turista, adoptando as seguintes medidas de prevenção:
  • Proteger e manter a integridade de locais com relevância para a geoconservação;
  • Contribuir para minimizar os impactes decorrentes de actividades que possam perigar os geossítios;
  • Preservar as taxas e magnitudes das modificações de processos geológicos;
  •  Interpretar a geodiversidade para os turistas e outros visitantes de áreas protegidas;
  •  Promover a exploração sustentável dos recursos geológicos;
  •  Proteger, manter e monitorizar os geossítios;
Em muitos casos, como por exemplo nas áreas protegidas a atitude conservadora não depende somente dos gestores, da aplicação dos instrumentos jurídicos e dos políticos mas também do comportamento individual ou colectivo dos visitantes (Carcavilla et al., 2007).
A geoconservação perspectiva também uma gestão sustentada dos recursos geológicos através do reconhecimento, valorização e divulgação do património geológico, o que implica o cumprimento dos seguintes objectivos:
a)      Contribuir para a preservação da biodiversidade e para a manutenção dos processos ecológicos dependentes da geodiversidade;
b)      Conservar e assegurar a manutenção da geodiversidade
c)      Encorajar os geocientistas na pesquisa e proposta de mais geossítios para lista de Património Mundial;
d)     Contribuir para a valorização do património geológico
A concretização desses objectivos implica a adopção de estratégias locais e nacionais que promovam a implementação de uma política ambiental susceptível de garantir a conservação e valorização do ambiente, mormente no que se refere ao ordenamento do território, protecção do litoral, criação de espaços protegidos (parques naturais, sítios de interesse geológico entre outro.
Entre essas estratégias podemos destacar as estratégias de geoconservação.
Uma estratégia de geoconservação é um processo que visa pôr em prática as acções de conservação do património geológico
Etapas de uma estratégia de geoconservação
Inventariação
Quantificação
Classificação
Conservação
Valorização e divulgação
Monitorização

Tendo em conta a necessidade de implementar a geoconservação em Cabo verde (arquipélago formado por dez ilhas sendo nove habitadas) foi concebida uma estratégia de geoconservação para Cabo Verde cuja aplicação se restringiu à ilha de Santiago a maior do país no espaço territorial e com maior concentração populacional.
A conservação da geodiversidade e do património geológico cabo-verdianos justifica-se pela ocorrência de rochas formadas desde o Mesozóico (161 ± 4 M. a.) - os calcários da ilha do Maio - até à actualidade (algumas rochas vulcânicas na ilha do Fogo com apenas 17 anos de existência surgidas a partir da ultima erupção vulcânica ocorrida em Abril de 1995).
Devido à natureza arquipelágica do país, o que faz agravar os problemas logísticos, à necessidade em estabelecer um programa de geoconservação que abranja de forma completa todo o arquipélago e, ainda à dificuldade que os geocientistas de vários países já relataram, quando do estabelecimento de uma estratégia de geoconservação, entendemos que a melhor forma de conceber esta estratégia para Cabo Verde é seguir uma metodologia idêntica àquela proposta pela ProGEO para o estabelecimento de uma estratégia de geoconservação para áreas alargadas:

A Conservação da Natureza é considerada como todo tipo de gestão da Natureza, incluindo a protecção integral, a utilização sustentável e a recuperação ou restauração de áreas degradadas, visando a perpetuação das espécies e a manutenção da biodiversidade e de outros recursos naturais. A abordagem dessa questão requer sempre que se tenha em conta os locais onde a conservação é prioritária, o tipo de bem/objecto a conservar e a adopção da melhor estratégia no processo de conservação. É necessário que haja definições claras e objectivas dos alvos da conservação: espécies, comunidades, geossítios, áreas de interesse geológico entre outros. Na Cimeira do Rio, de Janeiro em 1992, reconheceu-se que o então modelo de crescimento e desenvolvimento, baseado na exploração dos recursos naturais sem se levar em consideração a disponibilidade e a capacidade de renovação dos mesmos, era inviável. Assim, enquadrado nas estratégias do desenvolvimento sustentável propôs-se uma série de objectivos entre os quais o uso eficiente dos recursos naturais, a restauração dos sistemas degradados e o reconhecimento da importância do meio ambiente para o bem-estar humano (Carcavilla et al., 2007). O uso eficiente dos recursos naturais e a restauração dos sistemas degradados requerem que se reequacione os procedimentos face à exploração e gestão dos mesmos, uma vez que alguns recursos, designadamente os geológicos não são renováveis. Daí a necessidade de desenhar novos recursos tecnológicos para a sua exploração e investigação no domínio das Ciências Geológicas (Uceda, 1980). Mas não basta redesenhar os recursos tecnológicos para a exploração dos georecursos, é preciso também moldar a consciência humana, sobretudo se considerarmos que, presentemente, em muitos países subdesenvolvidos continua a haver uma sobre-exploração destes recursos como forma de fugirem à pobreza (World Resources Institute, 2005). Por isso, é importante que haja não só assinaturas de tratados internacionais e protocolos de cooperação, mas também a realização de encontros internacionais, seminários de formação local que ajudam a consciencializar a população e a transmitir-lhe conhecimentos de modo a agir de forma mais ajustável às premissas da sustentabilidade (Carcavilla et al., 2007).
Por outro lado, determinados fenómenos que ocorreram na Terra há milhões de anos, e que estão registados em rochas, são únicos e, provavelmente, jamais se repetirão. Estas e outras ocorrências geológicas de excepcional valor deverão ser conservados de forma a evitar a sua degradação e garantir a sua perpetuação. A conservação destas ocorrências passa pela geoconservação que tem como objectivo a conservação e a gestão do património geológico e processos a eles associados (Brilha, 2005).
Embora reconheçamos que há necessidade de exploração e consumo dos recursos geológicos, por vezes com algum valor, é necessário que se tenha a consciência da sua escassez e que pode esgotar a qualquer momento, pelo que a sua gestão deva ser feita de forma equilibrada e responsável pensando nas gerações vindouras e na sustentabilidade do planeta terra. A melhor forma de os gerir é integrá-los em áreas protegidas, uma vez que aí os sistemas de gestão estão assegurados por regimes jurídicos que garantem a sua conservação e o uso sustentável. O reconhecimento de que os elementos da geodiversidade de excepcional interesse devem ser conservados é algo de muito recente pelo que são muito raras as áreas protegidas declaradas por motivos exclusivamente geológicos.
 Nas últimas duas décadas tem havido uma crescente consciencialização à volta desta questão pelo que a conservação destes elementos é vista não só como algo possível, mas também necessário para a permanência do homem como “ inquilino” do planeta Terra.   
  
                     

    
                                

BIBLIOGRAFIA CONSULTADA:


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