domingo, 22 de abril de 2012


Ameaças à biodiversidade -  o caso de Cabo verde
Desde que o mundo é mundo as pessoas caçam e pescam para se alimentar, usam fogueiras para afugentar os animais ferozes e para cozer os alimentos. As pinturas nas cavernas mostram que o homem primitivo usava arpões e armadilhas para capturar as presas. Com a modernização das habitações a apanha de areia nas praias tornou-se uma prática frequente sobretudos nos países menos avançados. Hoje em dia, sustentabilidade do planeta terra e a sobrevivência das espécies requerem actualmente uma atenção de todos, particularmente dos decisores políticos que emanam regras de conduta e da preservação da biodiversidade (variabilidade de organismos vivos de todas as origens existentes nos ecossistemas terrestres e aquáticos). Cabo Verde não foge a regra. Pais arquipelágico localizado no Oceano Atlântico, a oeste da costa Africana, entre os paralelos 17 º 12´15’´ e 14º 48´00 ´´ de latitude Norte e os meridianos 22º 39’20´´ e 25º 20´00´´ de longitude W, à distância de aproximadamente 455 km do cabo que tem o mesmo nome e que fica situado no Senegal.
As suas ilhas estão geograficamente divididas em dois grupos, de acordo com os ventos dominantes, compreendendo o Grupo de Barlavento as ilhas de Santo Antão, São Vicente, Santa Luzia, S. Nicolau, Sal, Boa Vista e os ilhéus Branco e Raso, situadas a norte, e o Grupo de Sotavento com as ilhas de Maio, Santiago, Fogo, Brava e os ilhéus Secos ou do Rombo (ilhéu de Cima, Ilhéu Grande, Sapado, Luís Carneiro e Ilhéu do Rei ), ao sul.
O território nacional ocupa uma área terrestre de 4033 km2 circundado por uma zona económica exclusiva extensa, com temperaturas superiores a 22ºc durante o ano.
A biodiversidade Cabo Verdiana é composta por variadíssimas espécies tanto da fauna e flora terrestre passando para os recursos marinos. A flora cabo-verdiana é rica em espécies endémicas, estando neste momento um grande número delas ameaçadas. Existem no país cerca de 90 espécies endémicas, isto é, que não se encontram em nenhuma outra parte do mundo.
Relativamente à flora, Santo Antão é a ilha mais rica em termos de endemismo, com 46 espécies (das quais 11 espécies são exclusivas da ilha), seguido por São Nicolau, com 44 (com 7 espécies exclusivas da ilha), Santiago com 36, Fogo com 35, São Vicente com 34, Brava com 24, Boavista com 14, Sal com 13, Santa Luzia com 12 e Maio com 10 espécies.
Em todas as ilhas há uma variedade de plantas medicinais, tanto nativas como exóticas. Estas plantas são amplamente utilizadas pelas populações rurais; por exemplo, a planta endémica Micromeria forbesii, que é conhecida e utilizada pelas populações rurais em diversas áreas como um chá de ervas. Em Cabo Verde existem muitas espécies de plantas e árvores endémicas que passo a citar algumas: Agrião-de-Rocha (Kickxia webbiana) - As espécies deste género são muito variáveis e não são fáceis de diferenciar. Diferencia-se muito bem de todas as outras espécies através das suas folhas grandes, em forma de rim a oval, por vezes muito suculentas. É encontrada em Sto. Antão e S. Vicente em locais semi-húmidos a húmidos das escarpas íngremes; Aipo (Lavandula rotundifolia) - Arbusto até 1 m de altura. Folhas com forma de elipse alongada a forma de ovo, até 7 cm de comprimento. Flores azulado-arroxeadas ou azul arroxeado, até 13 mm, longas. É encontrada nas ilhas de Sto. Antão, S. Vicente. S. Nicolau, Santiago e Fogo. Pioneira nas escarpas, fendas rochosas e solos de escórias vulcânicas, até 2300 m de altitude. Forrageira, excepto para os suínos. Planta medicinal utilizada contra dores de barriga; Alecrim-Brabo (Campylanthus glaber ssp. glaber) - Pequeno arbusto rasteiro, perene, folhas muito estreitas (0.05-0.2 cm de largura), moles e ligeiramente suculentas. Flores pequenas (6-9 mm de comprimento). Muito disseminada nas ilhas de Sto. Antão, S. Vicente, S. Nicolau, Santiago, Fogo e Brava, mas não é uma espécie frequente. É encontrada em locais semi-áridos e semi-húmidos entre os 200 e 1400 m; Alecrim-Brabo-de-Folha-Gorda (Campylanthus glaber ssp. spathulatus) - Pequeno arbusto semelhante, com folhas claramente mais largas (0.5-0.9 cm de largura) e muito suculentas. As flores também são maiores (8-10 mm de comprimento). Está limitada a Sto. Antão, onde é encontrada em locais próximos da costa nas zonas semi-áridos e abaixo dos 200m; Funcho ou Fruncho (tornabenea bischoffii)  - O género tornabenea é o único género endémico de Cabo Verde. O número total de espécies são oito, localizados nas ilhas de Santo Antão, São Vicente, São Nicolau, Santiago, Fogo e Brava.
Quanto à fauna existem treze peixes endémicos em Cabo Verde Segundo a Fishbase (List of Endemic Fishes for Cape Verde). As principais espécies animais existentes são marinhas ou aves migratórias. Estima-se em 75 o número de espécies de aves raras que habitam, sobretudo, os ilhéus protegidos como reservas naturais. Algumas dessas espécies únicas no planeta são bem conhecidas entre os cabo-verdianos, particularmente os pescadores, peixeiras ou pessoal de restaurantes. Três tipos de sargos, tainhas, bentelha e o morro estão entre os mais vulgares. Os menos conhecidos são o rabo-branco, uma determinada raia, um tipo de peixe-agulha e quatro outras espécies sem por de lado as tartarugas.
 Em Cabo Verde existem cinco espécies de tartaruga, perto de cento e cinco espécies de aves terrestres e marinhas, das quais cerca de quarenta e duas reproduzem localmente, neste conjunto, vinte e quatro espécies e variedades são endémicas. Das espécies consideradas úteis, há tchotas (aves insectívoras), pardal de algodoeiro, pardal da barbaria, passarinha de pena azul, falcão, francelho ou falili, coruja, corvo, garças e calhandra do ilhéu Raso. Das espécies raras ou em via de extinção convém salientar o pato marmoreado, saltador e asa curta ou milhafre, o falcão, a francelha e o minhoto.
Se por um lado é imprescindível a existência da biodiversidade no planeta terra, por outro lado há necessidades humanas que muitas vezes perigam a sua manutenção, optando na sua distrição a longa escala.
"A poluição localizada, a pesca insustentável, o pastoreio excessivo e a degradação dos solos, agravado por plantas invasoras, são apontadas pelas autoridades que representam o sector ambiental como as principais ameaças à biodiversidade cabo-verdiana", segundo Sistema das Áreas Protegidas de Cabo Verde (CSAP), que conclui serem estas as ameaças directas à fauna e flora nacionais.
 No habitat marinho, predomina a destruição de habitats e degradação do ecossistema, bem como a expansão do turismo e a actividade imobiliária que vêm invadindo as áreas selvagens/silvestres contribuem para a erosão das praias e dunas. A intensa extracção de areia em determinados locais para a construção e a ocupação humana nas praias são também factores que perturbam a reprodução de tartarugas marinhas e aumentam os níveis de poluição.
As ameaças a biodiversidade ascendem as taxas alarmantes de degradação de habitats e de extinção de espécies devido a outros factores, nomeadamente:
Ø  Mudanças na utilização dos solos, que fragmentam, degradam e destroem os habitats. Esta mudança de afectação deve-se, principalmente, ao crescimento demográfico e ao aumento do consumo por habitante, dois factores que irão intensificar-se no futuro e gerar maiores pressões.
Ø   Alterações climáticas, que destroem certos habitats e organismos, perturbam os ciclos de reprodução, obrigam os organismos móveis a deslocar-se, etc.
Ø   Outras pressões importantes são a sobreexploração dos recursos biológicos; a difusão de espécies alóctones invasivas; a poluição do ambiente natural e dos habitats; a mundialização, que aumenta a pressão devido ao comércio, e a má governação (incapacidade de reconhecer o valor económico do capital natural e dos serviços ecossistémicos).
Ø   No habitat terrestre, a limpeza das terras para a agricultura, a pastagem dos animais domésticos, o elevado consumo de água, seja para a irrigação, seja para a produção de aguardente vulgarmente conhecido por “grogue”, bem como o uso descuidado de produtos agro-químicos e a eliminação precária de resíduos humanos são factores que poluem o solo e afectam negativamente a vegetação nativa.
Ø  O alastramento de espécies exóticas invasoras que restringem a sobrevivência da maioria das espécies nativas e a extracção de lenha e colheita de plantas nativas para uso medicinal fazem parte, também  dessas ameaças.
Várias são as outras formas de atentado a biodiversidade nomeadamente através de: Cheias, Esgotos, Lixos tóxicos mal tratados, Derrame de crude, Resíduos industriais lançados nos oceanos, etc.
Para concluir, no sentido de minimizar este mal que afecta grande parte da população mundial, especialmente os dos países industrializados, e os menos avançados entendo que há que tomar medidas de sensibilização junto das grandes empresas industriais e da população em geral, alertando-as para a importância da preservação da biodiversidade, com incentivos e prémios às associações de defesa do ambiente, institucionalizar um dia em cada ano para a plantação de arvores, paralisação total da fábricas durante dois dias úteis em cada ano e criação pelos Governos dos países em desenvolvimento, de postos de trabalho destinados a população mais vulneráveis que se recorrem a apanha de areia nas praias, ou desmatamento para venda de lenhas como meio de subsistência.
Quanto aos prevaricares (pessoas colectivas e singulares), deve-se tomar medidas coercivas para fazer cumprir as normas relativas a este assunto.     


Recorda-se que o Dia Mundial da Biodiversidade é celebrado a 22 de Abril.


José Tavares


Referencias:
http://www.asemana.publ.cv/spip.php?article68174&ak=1
http://www.alfa.cv/index.php?option=com_content&task=view&id=53&Itemid=47





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